Não sei se vocês têm acompanhado, mas tem aumentado no Brasil a discussão sobre o uso de remédios à base de canabidiol em tratamentos de saúde. Para quem não sabe, o canabidiol é uma substância derivada da Cannabis Sativa, a planta conhecida popularmente como maconha. Não se trata, no entanto, de liberar ou tratar alguém com o cigarro de maconha, mas sim com um composto que vem da mesma planta e que permite a produção de uma medicação. Normalmente esses remédios são indicados para o tratamento de epilepsia, Mal de Parkinson e outras doenças degenerativas.
Hoje, no entanto, para um brasileiro fazer tratamento com medicações à base de canabidiol é preciso obter uma autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar o remédio. O preço, porém, é bastante alto, assim como a burocracia e a demora para a chegada no país. Por isso existe a discussão na Anvisa para que haja a liberação do plantio da Cannabis Sativa no Brasil, o que permitiria a produção desses medicamentos em território nacional.
Não sou especialista nesses tratamentos e nem pretendo defender um ponto de vista a respeito do que a Anvisa deve fazer. O que sim entendo ser importante é a informação e o debate sobre um tema que está cada vez mais presente entre os profissionais da saúde. Atualmente nenhuma das pessoas que eu atendo faz uso de tratamentos com medicações derivadas do canabidiol, mas já tive três pacientes com epilepsia que utilizaram esse tipo de remédio. O que eles me disseram e o que eu fui capaz de perceber nas sessões de terapia foi que eles tiveram bons resultados. As crises epilépticas diminuíram e não houve efeitos colaterais tão fortes quanto os que normalmente ocorrem com o uso de remédios mais tradicionais, por assim dizer.
No meu convívio social – não na vida profissional – tenho duas pessoas que usam ou vão usar o canabidiol para tratamentos. Quero compartilhar com vocês o depoimento delas a fim de ilustrar como foi a experiência dessas pessoas. Por questão de privacidade não vou identificá-las pelos nomes e sim por letras. A M. ainda não começou o tratamento, mas conta como tem sido ir atrás desse tipo de medicação:
“Eu comecei a procurar o tratamento com remédios à base de canabidiol para a minha mãe. Ela é idosa e tem um diagnóstico de déficit cognitivo, com uma questão degenerativa forte que tem causado dificuldades motoras, de fala e também um quadro de ansiedade muito forte. Vários médicos tiveram receio de receitar o canabidiol por conta da idade dela e do quadro, mas o meu psiquiatra – com quem trato um quadro de ansiedade – se mostrou favorável. No entanto, ele sugeriu que eu fosse uma espécie de cobaia antes de iniciar o tratamento da minha mãe. O meu quadro e o dela são diferentes, mas a questão da ansiedade é parecida. Por isso o meu médico achou que tratar com remédio à base de canabidiol poderia me ajudar antes de ajudar ela. Bom, mas como faz para comprar esses remédios? O meu psiquiatra me sugeriu quatro representantes de empresas americanas e de uma canadense que poderiam trazer o remédio para o país. A questão é que é caro. Bem caro. A minha dose será pequena, mas quem precisa de grande quantidade pode gastar até dois mil reais por cada pedido, devido à questão do frete também. Ainda assim, demora 45 dias para chegar! Então, o que eu vejo, é que ainda tem muita pedra no caminho. Muita dificuldade para chegar em um remédio puro, confiável, que a gente possa usar com segurança e que seja barato.”
Já a Y tem um filho de nove anos que tem Síndrome de Down e Síndrome de Moyamoya, uma doença que predispõe o paciente a ter hemorragias cerebrais. Ela conta como tem sido o tratamento com canabidiol, que começou há um ano:
“Meu filho tinha muita crise de asma, a ponto de ter 20 internações em hospitais por ano devido à questão respiratória. A partir do início do tratamento com o canabidiol, esse número caiu para duas internações por ano! Além disso a gente percebe uma melhora em todos os sentidos desde que começamos a usar esse medicamento. Seja do ponto de vista neurológico, cognitivo ou físico. A verdade é que nós saímos da perspectiva de sermos uma família doente, de muitas internações por ano, para uma família de vida praticamente normal.”
Ela, porém, também fala sobre as dificuldades para obter essa medicação:
“Ainda enfrentamos muito preconceito. As pessoas acham que estamos dando maconha pra ele e não é isso! Fora a questão burocrática que seguimos encontrando. Nós até conseguimos na Justiça que o Estado custeasse o nosso tratamento, mas eles não cumprem os prazos. Por isso ainda estamos em um processo de importação do medicamento. É simples, mas bastante caro.”
Como disse a vocês, o objetivo aqui é trazer esses relatos e falar um pouquinho sobre o tema. Mas também queria ouvir vocês! Se tiverem um depoimento, uma dúvida e uma opinião, por favor: mandem aqui!