Nem sempre é transtorno de déficit de atenção

Agitação, problemas para dormir, dificuldade de concentração, desempenho ruim na escola, memória que parece não funcionar, irritação, comportamento inadequado, impulsividade, desorganização… Ufa! Estes são apenas alguns dos sintomas associados ao transtorno de déficit de atenção (TDA),  sem ou com hiperatividade (TDAH), uma das principais razões para o encaminhamento aos consultórios e profissionais das mais diversas áreas!

O TDA(H) são transtornos neurobiológicos de natureza genética, ou seja, provêm de um mau funcionamento orgânico ativado pela predisposição no DNA para o surgimento dessa dificuldade.  Por isso, a existência dos sintomas citados acima, por si só, não determina o diagnóstico. A agitação, por exemplo, pode ser consequência de um quadro de ansiedade ou imaturidade emocional, o mau comportamento pode ser um reflexo do ambiente familiar e a irritação pode ter origem em questões psicológicas. Ou seja, não é de bate-pronto que vamos diagnosticar o TDA(H). Até porque, não há exames de imagem ou genéticos para definir a existência ou não desse quadro. Assim, é necessária uma avaliação criteriosa que envolva as mais diversas fontes possíveis, desde o olhar clínico do psiquiatra e/ou do neurologista, até conversas com a família e a escola, passando pela minha área, a da neuropsicologia.

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Quando um paciente chega para mim com a suspeita de TDA(H) o primeiro passo que dou é realizar  uma avaliação neuropsicológica. Por meio dela vamos conseguir atestar se há alguma função cerebral alterada ou se existem indícios de um outro quadro por detrás dos sintomas apresentados. Sobre isso, aliás, gostaria de compartilhar alguns pontos que me chamam a atenção na prática diária: ter  alterações nos testes que avaliam a atenção, não significa necessariamente a existência do transtorno de déficit de atenção. Para que cheguemos ao diagnóstico de transtorno, é necessário que o paciente apresente um perfil neuropsicológico que indique alterações em outras áreas como função executiva, memória operacional, velocidade de processamento, curva de aprendizagem oscilante, entre outras. Já em relação à hiperatividade, cabe ressaltar que nem sempre ela é motora, mas às vezes mental! Quando encontramos casos assim, a inquietação não vai vir em dificuldades para ficar sentado, com as mãos e pés parados ou sem mexer no cabelo, mas sim em um fluxo ininterrupto de pensamentos, que impede essa pessoa de se concentrar.

Como já dissemos anteriormente, esses diagnósticos só são obtidos mediante avaliações criteriosas e apuradas das várias facetas daquele paciente. Isso, no entanto, não quer dizer que uma negativa para TDA(H) signifique que não vamos fazer nada a respeito.  Penso que se a família nos procurou é porque existe uma queixa e uma dificuldade dela de lidar com essa situação. Sendo assim, sempre propomos algum suporte, que pode ser uma orientação, uma terapia, alguns exercícios…

Bom, em caso de confirmação de diagnóstico, o tratamento vai depender da idade e das alterações que o paciente apresenta.  Há casos em que faremos a habilitação neuropsicológica para treinamento das funções cognitivas, casos em que a terapia cognitiva comportamental pode trazer benefícios e situações nas quais existe a necessidade do uso de medicamentos de maneira concomitante. O remédio por si só não vai resolver as dificuldades, mas pode ajudar na viabilização dos demais tratamentos. Importante dizer que quanto mais precoce for feito o diagnóstico, maiores as chances de conseguirmos êxito no tratamento. Quando tratamos de crianças pequenas, por exemplo, trabalhamos com uma plasticidade maior do cérebro, ou seja, como aquele paciente ainda está em formação cognitiva, motora, etc, é mais fácil e rápido moldar e corrigir as funções que eventualmente estejam alteradas.

Isso, no entanto, não significa que adolescentes e adultos não possam ser tratados.  Para o adolescente também é possível uma melhora por meio da habilitação neuropsicológica, – que em alguns casos virá aliada a um tratamento medicamentoso – mas em paralelo costumamos sempre ensinar algumas estratégias para que ele drible as dificuldades diárias. Alguns exemplos: propôr que a pessoa leia e faça uma representação gráfica do que entendeu, incentivar que ela faça resumos, pedir que ela ative alarmes/timers para não perder a hora, insistir que ela organize as tarefas do dia e assim por diante.

Já em relação  ao tratamento para adultos (acima de 18 anos), vou deixar para contar em um próximo post uma novidade que acaba de chegar ao Grupo Can. Trata-se de uma técnica que vem tendo muito resultado nos pacientes com TDA(H), mas também  com outros quadros!  Semana que vem explico melhor!