Funções Executivas Quentes e Frias

Há duas semanas estive no Rio de Janeiro participando da 89ª edição do congresso da INS (Sociedade internacional de Neuropsicologia) e 18º congresso da SBNP (Sociedade Brasileira de Neuropsicologia). Foi mais uma experiência bastante proveitosa de intercâmbio de ideias e muito aprendizado.

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Uma dos temas mais interessantes do evento veio na palestra do Philip Zelazo, professor do Nancy M. e John E. Lindahl no Instituto de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Minnesota . Em sua apresentação ele falou sobre as funções executivas frias e quentes. É uma abordagem muito interessante e que vale a pena compartilhar com vocês aqui.

Para começo de conversa: o que são as funções executivas? Basicamente é a nossa capacidade de controlar e gerir pensamentos, emoções e ações. Processos comuns como planejamento, organização, administração do tempo, memória de trabalho, resolução de problemas, execução de tarefas, controle dos impulsos, seguir regras sociais, entre outros seriam impossíveis sem as funções executivas funcionando bem.

Bom, mas então o que seriam funções executivas frias e funções executivas quentes? De forma bem simples, as funções executivas frias são aquelas que mexem mais com a lógica e o planejamento. Já as quentes são aquelas que envolvem emoções e sentimentos. Um exemplo engraçado de função executiva quente dado pelo professor Philip Zelazo é a ideia da alternativa envolvendo algo que se deseja. Quando você pergunta para uma criança se é melhor comer um doce imediatamente ou dois depois, normalmente elas aconselham que você espere. Agora, se trazemos essa hipótese para para o caso dela, a criança não titubeia: quer um doce agora. Nada de esperar!

Dá pra explicar da seguinte forma: enquanto era uma situação hipotética que envolvia o meu doce agora ou dois depois, a criança fazia uso de funções executivas frias, analisando com calma, planejamento e lógica o cenário. Quando virou uma situação prática envolvendo ela e a tentação e as emoções de ter um doce imediatamente, tornou-se um uso de funções executivas quentes.

É interessante observar que as funções quentes normalmente afetam as funções frias, “atrapalhando” a nossa capacidade de planejar, organizar, controlar impulsos, etc. Sob esse ponto de vista é possível dizer que as funções executivas quentes são superiores às frias.

Vale dizer que quando somos menores essas funções estão mais presentes e com o passar do tempo vamos nos “controlando mais”. Faz parte do desenvolvimento do cérebro e do aprendizado decorrente das nossas experiências. Por essa razão friso novamente a importância da intervenção precoce nas crianças que apresentem alguma alteração no desenvolvimento neuropsicológico. Devido à neuroplasticidade é mais fácil trabalhar e a aprender quando se é mais novo e, como discutimos acima, um aprimoramento das funções quentes pode gerar melhores funções frias.